Arquivo pessoal de Marília Mendes- 17 de julho de 2015 |
Inverno
duvidoso. É o Rio com seus disfarces poéticos. A mão tateia o vento e o
sol se comparte entre as nuvens. De Copacabana até Ipanema, o caminho é
bem selecionado: as amendoeiras se rompem entre os intervalos que
mesclam a calçada secular, os coqueiros sinalizam a trilha até o
Arpoador e o encontro com Tom Jobim é um evento musical ao vivo.
A
mulher dá a mão para o cantor e dança ao redor daquele corpo imóvel, de
bronze, um pouco sem a cor da paisagem de Ipanema. Sons transitam entre
as buzinas que concorrem com o barulho do mar revolto, formando um
cenário em meio à corrida para o enriquecimento ilícito. A distância
social entre as pessoas não impede que elas sejam quase as mesmas,
estando ali, sem pressa. Mudam-se apenas o figurino, o tipo de sede, o
corte do agasalho e os sapatos. A aparência é um ludíbrio entre os
homens que seguem velozes. Alguns seguem descalços, sem vergonha e sem
moral.
Tom Jobim em Ipanema. Arquivo pessoal de Marília Mendes- 17/07/2015 |
O
Rio é marcado pela beleza de uma natureza que se casa com o tempo. São
450 anos palpitando para gerar vida, ainda que a má conduta de alguns de
seus filhos devolva em gestos bruscos suas inquietações. Teríamos a
vitória da ética sobre o mau caráter lado da cidade que dorme com os
turistas? O rapaz corta o calçadão, levando um pouco daquela beleza. Ele
se compraz com a percepção dos olhares incertos. O inverno ali também é
suspeito.
Quando
o avião decola do Santos Dumont e a fotografia colore o vidro, o avião
decola; o coração, não. As promessas de novas benesses continuam na
tradição carioca, na velha culinária do Manoel e Joaquim ou no
reduto carioca da boemia. Enfrenta-se a turbulência entre um nevoeiro
que dribla o que se vê e o que se armazena no horizonte mnemônico. Não
se sabe se é inverno extenso ou se o sol aquecerá a cidade com sensações
térmicas mais altas. O silêncio pondera. Os braços abertos do Cristo
sobre a Guanabara apertam um e outro viajante.
Arquivo pessoal de Marília Mendes- Julho de 2015 |
Não
queríamos deixar o Rio, assim, sem uma despedida mais calorosa. Mas
Nova Iorque acende o seu chamado para um piquenique. Lá, as ruas estão
em férias e as pessoas vão se bronzear no Central Park. O verão é muito
quente. À tarde, ainda temos o bônus daquele beijo bem dado, como
sinônimo de um breve retorno, depois de um novo encanto. Alguns dias
passam rápido. O comandante dá um Hello, com voz firme e
aveludada. Informa os 30 graus que vão subindo. O inverno é duvidoso. As
amendoeiras darão flores. De qualquer maneira, a primavera é mais certa
do que este controverso inverno.
Professora Marília Mendes
1 comentários:
Quem nasceu para brilhar, né?
Parabéns, amiga. Top! Top! Top
Cris Aguilar
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