Restauração é a alma contida sendo refeita
é o corpo em movimento sendo envolvido.
Restauram-se a pele, os cabelos e os olhos.
A lembrança pulverizada corta os trilhos
dos caminhos mais ásperos aos mais leves
restaura-se a mágoa noutro corpo.
Restauração é um caminho torto
no desconforto.
É refazer a película que cobre
o âmago.
É sediar a coragem, recuperando o fôlego...
E na dimensão das coisas,
fazer-se diminuto,
crescer no pouco a pouco do tempo.
A obra pronta nunca está pronta,
mas restaurada, jamais a mesma obra
e o mesmo acabamento.
O outono passa, o inverno congela
e a primavera restaura
o pranto, o canto e o encanto.
Restauração não pode vir de fora,
nem está dentro.
Restauração é no tempo.
(Lila Mendes, dez. de 2011)
Revi esse poema de 2011, hoje, enquanto preparava meu trabalho para o final de maio. Muitas reflexões. Ainda sem definição, imaginei um novo modo de pensar na restauração que fazemos de nós mesmos. Pensei nos acabamentos que o tempo nos proporciona e não vi uma obra refeita, mas cada parte sendo, delicadamente, preparada. Restauração é para mim, desde 2011, o princípio de uma definição.
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