O blog Doce de Leite Mineiro veio em um momento de grande transição. Em Brasília, lia as receitas do chef Eduardo Maya, responsável pelo festival comida di Buteco. Sempre que viajo para BH, morando em Brasília, procuro receitas novas, temperos novos e dicas de grandes pessoas, que se tornaram verdadeiras inspirações para a criação do blog.
Nos intervalos, informava-me acerca dos acontecimentos e da própria história da minha cidade natal. Aos poucos, observava a riqueza folclórica e diversificada da culinária e da literatura de Minas, que reconhecidas em todo país e mesmo no âmbito internacional, estão representadas por mineiros que, mesmo longe, por inúmeros motivos, levam das Gerais, a graciosidade da beleza das montanhas, que escondem Minas, da Estrada Real, do berço do ouro, em características atenuadas, que confirmam uma identidade daquele ou daquela que tem Minas no coração.
Em 2010, encontrei um poema lindo, em um blog também de grande expressividade, o Quiriri e muito me rascunhei nos versos e na alegoria das palavras , que também coincidiam com pessoas muito queridas que eu conhecia em Brasília, simultaneamente, e que começavam a fazer parte da minha história intensamente.
Paralela à ideia do blog, com poesia e gastronomia, conheci algumas cidades do Paraná em período de férias e pude participar de cursos e oficinas introdutórios no assunto da enologia. Todos os cursos e conhecimento surgiram pelas mãos de duas pessoas muito importantes para mim, que já estão no ramo desde 1999 e são responsáveis por grande parte dos encontros e da formação de conhecedores da boa mesa e do bom vinho no sul do país, incluindo a sociedade enóloga do Paraná.
Passados os cursos, usei grande parte da literatura oferecida para estudo individual. Observo, procuro e conheço pratos e vinhos que estão ao meu alcance e faço anotações pertinentes.
A poesia, no entanto, já estava na alma. Desde muito cedo, lia Carlos Drummond de Andrade e Adélia Prado. Respirava poesia, independente da faculdade.Tive motivos lindos e motivos tristes para transformar em poesia. Algumas foram duras de acontecer e tantas outras criaram uma espécie de prazer, no processo de expressão através do registro da escrita.
Reunindo tantos temas e movida por enorme desejo de criar um espaço para que as pessoas se envolvessem com poesia, gastronomia e com os aspectos de Minas, resolvi criar o Doce de Leite Mineiro. O que era para ser Poesia na Taça, caiu muito bem com o antidietismo da palavra e com a doçura do seu refinamento.
Em Minas, existe uma multidão de poetas e de doceiras. Sem me preocupar se seria apenas mais uma, improvisei... A resposta, tão imediata, trouxe-me orgulho de ter nascido em Minas e uma paixão por aqueles que passam por aqui e deixam mensagens lindas. Sou grata à mineiridade, à brasilidade e ao universalismo que as palavras transportam. Não anônimas, elas encerram um conteúdo de prestígio. Talvez, agridoce, por vezes com gosto amargo, mas todas elas, sem distinção, terminam flambadas em um puro e inesquecível Doce de leite Mineiro. Seja bem-vindo e volte sempre.
Minas é isso. É mais. Tudo que não é de Minas, deve ser Gerais.
Marília Mendes
DECLARAÇÃO
É você
mesmo que tardio
meu estalo
meu clichê
obviedade de minha confusão
É você
minha catacrese
meu ritmo acelerado
minha melopeia
É você
meu ato sem ação
minha insônia
meu riso amarelo
meu motivo de reclamação
É você
alegria que entristece
meu maior presente
manhã que me anoitece
É você
meu abono legítimo
meu algo no vazio
nascente da minha alegria
meu rio
É você
meu arroz caseiro
meu fuba com erva doce
doce de leite mineiro
É você
mesmo que tardio
meu estalo
meu clichê
obviedade de minha confusão
É você
minha catacrese
meu ritmo acelerado
minha melopeia
É você
meu ato sem ação
minha insônia
meu riso amarelo
meu motivo de reclamação
É você
alegria que entristece
meu maior presente
manhã que me anoitece
É você
meu abono legítimo
meu algo no vazio
nascente da minha alegria
meu rio
É você
meu arroz caseiro
meu fuba com erva doce
doce de leite mineiro
É você
minha sombra
minha brisa
minha tapioca exagerada de Iracema
meu pôr do sol em Fortaleza
É você
sem dúvida
calor e calafrio
meu melhor estalo
mesmo que tardio.
calor e calafrio
meu melhor estalo
mesmo que tardio.