Minas tem um conto

30 de abril de 2011 0 comentários

Existirão Minas que não são gerais ? Daquelas específicas, no breve "ali" do mineiro, onde segue o curso do Velho Chico, desabitado pela urbanização, do seu vazio ou das suas cheias sem peixe. Minas tem um conto. Quem quiser que aumente um ponto.

Das Minas, conheço aquela velha maria-fumaça, desensilenciando o mundo. Abram-se as portas! As donas, que muitas marias, descem as ladeiras, que não trazem  mais em seus pés, nem em seus cantos, mas em seus doces, compotas suaves na alma de 29 polegadas para mais de metros de um bom “causo”. O homem que leva a carta acompanha a mulher sabida, a pé ou de bicicleta.

Ah! A mineiridade não tem pressa. Talvez naquela carta, emparelhada, que o velho e bom amigo carteiro não deixou. O e-mail foi mais rápido. Mas ele continua passando, tão sereno como passam as dores de um velho amor que se foi.Em suas cores de sempre, amarelado ou azulado ,ele não é mais o mesmo, mas escuta, assovia, segue, entre uma caixa e outra,.Lá está sua mineiridade em forma de papel.É ele quem ainda guarda o prazer de desenvelopar das pessoas.

Minas de mercado, de bugigangas sem eira nem beira, principalmente "sem", porque onde vou buscar, lá do pouco de água benta dessa contemporaneidade viscosa que prometem as cidades históricas e as estradas de terra. São aqueles mesmos atalhos que duravam uma vida .

Por onde passam Minas, levantam-se bandeiras, retratos de homens de ferro, que jogam futebol, fazem livros, filhos, constroem em um alqueire de terra um cenário para seu quiproquó noturno, do velho rural para o novo center. Não têm graça  os centers, se não existem as opções desdobradas das Minas que carrego nesse pavilhão de sonhos. É lá que resiste a felicidade sem preço.

Talvez onde nascem todos os sóis fora de hora, onde comer bem não engorda o corpo, mas recheia a  alma límpida, os corações eternos. É lá onde me ancoro, quando preciso prosear o terno e o indecente, a falta e o excesso.Quando preciso provar do doce e do amargo, do fresquinho e do café pingado. É de lá que me chegam as cartas, do súbito e do para toda a vida que alguém transporta, anônimo, ledor dos endereços mais escondidos.

Minas não tem  coisa específica, mas vai pelas bordas... de ouro, das gerais. É lá onde o rádio tem Itatiaia, onde os bandeirantes mereceram seus tropeiros e os inconfidentes confessaram seus temores. Ninguém pode apenar aquela velha história de doceiras, de lavadeiras, de mulheres de Atenas do Triângulo mineiro amoroso, sem a gula dos tropeiros, o feijão fradinho e o milho verde expresso no mingau.

É de minas essa malha toda. Vem de lá esse fervor que nos impulsiona, quando chove fino ou quando a tempestade relampeja a palavra saudade, sem selo, sem caixa, sem ter onde guardar. É de Minas essa reza, esse santo e essa missão.

Se for a Minas, compre uma peça de artesão dos bons no mercado central e coloque naquela mesma agência central de encontros aquela fotografia amarela do seu melhor passado. Se for de Minas, esqueça um pouco a sua rotina saudosista, de quebra, fingindo felicidade federal e, de vez em quando, tire os sapatos e ponha seu ser na estrada, na água, submerso. É lá onde rogam-se as pragas e desentortam-se os males feitos, onde a imperfeição é sorte, onde Judas encontraria suas botas, onde a carta chega, mesmo quando ela não "vem"... Minas traz vida; sussurra, abençoa a morte e como a felicidade, minas bate à porta...
                                                                                  Professora Marília

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