Lembrança de Maio

16 de junho de 2018 0 comentários

Meu coração bate desamparado
onde minhas pernas se juntam.
É tão bom existir!
Seivas, vergônteas, virgens,
tépidos músculos
que sob a roupa rebelam-se.
No topo do altar ornado
com flores de papel e cetim
aspiro, vertigem de altura e gozo,
a poeira nas rosas, o afrodisíaco,
incensado ar de velas.
Santa sobre os abismos,
à voz do padre abrasada
eu nada objeto,
lírica e poderosa.

(Adélia Prado, em “Reunião de Poesia – Adélia Prado – 150 poemas selecionados”, p. 138.)

Poema de continuidade
 
Maio vai ser sempre maio
com uma carta na manga
esperando o tempo passar.
É tão bom existir!
Como beijos trepidantes
que se aquietam na vela 
que o silêncio acende
e que ninguém se atreve a apagar.

(Lila Mendes) 

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