Conto do caboclo d'Água

26 de junho de 2011 0 comentários
Nas andanças folclóricas em Minas, em Barra longa , município modesto do Rio Doce, terra da atividade leiteira, da rapadura e do bom aguardente, do catolicismo fervoroso, locado na velha Matriz de são José, dos pescadores, contadores de causos fantásticos e da simplicidade de uma população de relatos, grandiosamente históricos e desdobráveis, surge um novo causo mineiro.

Do E.T. de Varginha aos arredores de Abaeté, das á
guas encantadas do rio, povoado por carrancas e seres mitológicos tão abaetenses, até a cultura da população ribeirinha do lago de Três Marias, dessas cidades mineiras, marcadas pelo misticismo, pelas lendas inenarráveis do estranhamento, a lenda da doce Iati, o rio lindo e largo com suas sinuosas curvas, as paixões de um povo que não se intimida com o oposto.

Dessa vez foi em Barra Longa, que seu Zé Bodega, pescador conhecido na região, conta que deixou de pescar no rio Gualacho por medo da estranha criatura, que vive aterrorizando a região. Dona Maria das Flores, doceira, conhecida pelas deliciosas rapaduras, tem medo de atravessar a ponte e ser atacada pelo animal.

Seu Antônio Pé de Pato viu o bicho, fez o retrato falado e entregou ao segurança. Dona Zica também. Seu Vicente do comércio foi à missa e esbravejou para o padre:
"-O bicho é feio que dói. Meu Deus !" Foi ao confessionário.
Dona Adelina de Jesus viu o caboclo pançudo, logo cedo, e as vacas, aterrorizadas, depois que o bicho mamou nas tetas das pobrezinhas, pediam socorro na estrebaria.

Dona Florzinha, moça bonita da região, também viu o caboclo. -Tem muita gente vendo esse " trem ". - Balbucia a moça ao jornal.
Dona Sunamita, seu Zé Beterraba, dona Mocinha, o padre Zeca e o pastor estão vigiando a próxima aparição do caboclo D'Água para confirmarem o retrato falado. A recompensa de quem fizer uma foto é de 10.000 reais.

Bartolomeu das Quebradinhas está de olho no dinheiro. Ele comprou até polaroide nova e armou seu aparato. Dia e noite, sobre uma árvore qualquer, ele vigia. Não se cansa. Também não tem medo. O que ele quer é ter certeza e a população acredita que os dias do caboclo estão contados. Em nome da boa rapadura, eu adoço esse causo.
                                                Professora Marília Mendes

(O Caboclo d'Água é uma lenda conhecida em Minas Gerais. Suas constantes aparições ganharam repercussão nacional na última semana. Os personagens apresentados no conto, no entanto, são ilustrativos, da minha própria criação, mas a recompensa para quem fotografar ou capturar o bicho é real.)

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