Sob estrelas

3 de outubro de 2011 0 comentários
"...Assistia ao mundo, rodava macio tudo, o ônibus, a vida, nem protagonista nem autora, era figurante, nem ao menos fazia o ponto naquele teatro perfeito, era só plateia. Aplaudia, gostando sinceramente de tudo. Contra céu azul e cheiro de mato verde Deus regia o planeta. Estava muito surpresa com a perfeita mecânica do mundo e muitíssimo agradecida por estar vivendo. 
Foi quando teve o pensamento de que tudo que nasce deve mesmo nascer sem empecilho, mesmo que os nascituros formem hordas e hordas de miseráveis e os governos não saibam mais o que fazer com os sem-teto, os sem-terra, os sem-dentes e as igrejas todas reunidas em concílio esgotem suas teologias sobre caridade discernida e não tenhamos mais tempo de atender à porta a multidão de pedintes. Ainda assim, a vida é maior, o direito de nascer e morar num caixote à beira da estrada. 
Porque um dia, e pode ser um único dia em sua vida, um deserdado daqueles sai de seu buraco à noite e se maravilha. Chama seu compadre de infortúnio: 

vem cá, homem, repara se já viu o céu mais estrelado e mais bonito que este! Para isto vale nascer."

( trecho de RODANDO...extraído do livro "Filandras )
                                                                                                     (Adélia Prado)
O homem inventou o avião e ele próprio começou a aterrorizar o mundo com a guerra. Mas  inspirado  pelo céu e pelas manobras que a vida dá, oportunizou a alguns, voar, soltar  fumaça e tocar o coração das pessoas em Terra.  Uma outra versão da criação deu renome ao amor com mais letras.
                                                                    ( Marília Mendes )

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