Deslize

11 de março de 2016 0 comentários
Pensar incomoda como andar à chuva
Quando o vento cresce 
e parece que chove mais.
(Fernando Pessoa, 
O guardador de rebanhos)

ARQUIVO PESSOAL de Lila Mendes-HYDE PARK-JAN. DE 2016

Tu és o meu maior deslize.
os meus calibres e as minhas dúvidas.
És um ponto fraco que se firma
à altura de minhas reticências.
Tu és o alfajor que me benze os lábios
em dias de folga.

Teu diâmetro me cabe em total descompostura.
Tu és a falta de cabimento que desterrei 
(fora a culpa).
És meu  mar de porto vazio
meu amuleto de última hora
o meu começo e o meu sinal.

Meu talismã de mão
de costas e de pernas.
Meu volume morto
e meu corpo cantado de cor
e salteado;

Tu és minha palavra análoga
meu predicativo orquestrado
meu silêncio guardado.
És meu atalho na escrita afora
minha falta e meu excesso,
minha verdade e minha reza,
és crença na falta de fé,
vaidade que cresce conforme a lua.

Gira a maçaneta, o olho e a mão.
Deslize profundo conforme a hora
um leve até breve desde agora.   

(Marília Mendes) 
 

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