A duração do dia

9 de março de 2011 0 comentários
Depois de 11 anos, Adélia Prado, uma das minhas preferidas, lança um novo livro.No retorno para Brasília, não hesitei. Estava esperando por esse título com pensamento positivo. Adélia sabe o que faz.

ESPLENDORES

Toda compreensão é poesia,
clarão inaugural que névoa densa
faz parecer velados diamantes.
Em pequenos bocados,
como quem dá comida a criancinhas,
a beleza retém seu vórtice.
São águas de compaixão
e eu sobrevivo.
( Adélia Prado )
 TÃO BOM AQUI

 Me escondo no porão
para melhor aproveitar o dia
e seu plantel de cigarras.
Entrei aqui pra rezar,
agradecer a Deus este conforto gigante.
Meu corpo velho descansa regalado,
tenho sono e posso dormir,
tendo comido e bebido sem pagar.
O dia lá fora é quente,
a água na bilha é fresca,
acredito que sugestiono elétrons.
Eu só quero saber do microcosmo,
o de tanta realidade que nem há.
Na partícula visível da poeira
em onda invisível dança a luz.
Ao cheiro do café minhas narinas vibram,
alguém vai me chamar.
Responderei amorosa,
refeita de sono bom.
Fora que alguém me ama,
eu nada sei de mim.
( Adélia Prado )

Talvez o dia dure mais que a nossa esperança e menos que o fôlego que se tem para abraçar, merecer e perdoar.
O dia dura o instante frágil do amor, que às vezes, é interrompido celeste ou brota bronco na relativa memória. ( grifo meu )     
Marília Mendes

0 comentários: