Lugarejo

"Desprezo era um lugarejo. Acho que lugar desprezado é mais triste do que abandonado."
( Manoel de Barros ) 

Entre as montanhas de Minas e as árvores tortas do cerrado, 

acho que eu fico com a poesia que decora nossa alma, 

mesmo longe dos feriados.

Dei por mim que seu beijo era vasto como a serra da Mantiqueira 

ou artificial como o Paranoá sem luz.

Dava um belo e íntimo retrato na ponte, 

não fossem suas ideias que são sempre suas ideias.

Egoísta e autoritário,

era um homem com ideias e beijos.

Quando ia para a cozinha, era um homem completo.

Entre o Eixão e o chão de Minas, havia uma leve quilometragem desnecessária, separando o cosmos no caminho de retalhos.

Teu peito forte, a barba por fazer,
as sinuosas gravatas daquele seu figurino impecável, 
teu fino gosto pelos vinhos raros,
  teu lugarejo de dor ou de prazer,
teu plano piloto sem direção

ou o meu melhor paraíso .

Perdoe-me se eu te abandono agora, 

homem de ideias e de beijos.
Se me procuras, não me ache.

Estou irredutível. 

Estou farta de doce de leite 
 e agora só pretendo provar coisas mais ásperas.

  Ponto.

                                                                  Lila Mendes